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sábado, 20 de agosto de 2016

Destemido ( Os girassóis )

Sempre vou me lembrar dos girassóis que você plantou.
Você foi preso - não se pode plantar flores em qualquer lugar, querido. Mas eu desejei passar ali todos os dias, só porque lá tem girassóis agora.
Sei que eu ia sorrir ao me lembrar do quão corajoso você foi por plantar flores nesse lugar poluído. Aparentemente sem razão. Mas você me disse que alguém que você amava ama girassóis.
E você queria que ela sorrisse toda manhã.
Você não se intimidou em recitar palavras sobre o amor próprio pra toda aquela gente. Fantasiado, pra externalizar o que sentia. E como sente. Até hoje faço das suas palavras, minhas. Naquele dia aprendi que é importante "de tudo, ao seu amor ser atento".  Não só ao seu, mas por tudo o que você sente amor.
Ainda não me esqueci.
Te vi comprando um livro muito caro. Você o folheou, sorriu, depois rasgou as páginas sem desenhos, arrumou o chapéu e comeu sozinho uma caixa de doces, pra comemorar as cores. Estava sendo atento ao seu amor.
Eu estava cultivando em mim a sua graça e a sua coragem de ser diferente. De ser feliz. De não olhar em volta, e, sobre o dinheiro : "que bom que posso trocá-lo por livros e doces", você diria.
Te dei um adeus tão silencioso que você nem sentiu. Mas levei comigo a lição que vale a pena ser preso uma noite, se você puder acordar e ver girassóis todos os dias pela manhã. Eles são a prova do quão destemido você é, no momento em  que desafia o mundo pela beleza das flores.

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